PRECONCEITO A UMA ETNIA

22/09/2010 10:55

 PRECONCEITO A UMA ETNIA

 Por Dom José Edson Santana Oliveira.

Bispo diocesano de Eunápolis-BA e responsável pela Pastoral dos nômades do Brasil.

 “Meus irmãos, a fé que tendes em Nosso Senhor Jesus Cristo Glorificado não deve admitir acepção de pessoas. Pois bem, imaginai que, na vossa reunião, entra uma pessoa com anel de ouro no dedo e bem vestida e também um pobre com sua roupa surrada, e vós dedicais atenção ao que está bem vestido. Dizendo-lhe: “vem sentar aqui, à vontade”, enquanto dizeis ao pobre: “Fica ai, de pé”, ou então: “Senta-te aqui no chão, aos meus pés” – Não fizestes, então, discriminação entre vós? E não vos tornastes juízes com critérios injustos?”(Tg 2, 1-4)

A Declaração Universal dos Direitos Humanos consagrou inegável avanço civilizatório em termos das garantias dos direitos inalienáveis da pessoa humana. O trecho acima, da Carta de São Tiago, foi uma antecipação do espírito da Carta da ONU sobre os direitos humanos, que aproxima o homem das leis de Deus.

Mas, diante de algumas realidades vividas por estes dias, tenho me questionado sobre a plena realização do direito da Pessoa Humana. Atitudes do presente que lembram realidades medievais nos remetem à carta de São Tiago, nos levando a indagar se não “estamos nos tornando juízes com critérios injustos?”

Se examinarmos o que ocorre atualmente com algumas etnias, ficamos estarrecidos. É o caso da situação do povo cigano no Brasil e no Mundo, sentenciado, a priori, pelo forte preconceito e injustiça contra a cultura e o povo cigano.

Um pequeno, mas contundente exemplo desse fato pode ser narrado com as vaias recebidas pela cantora Madonna em um dos seus shows recente, no qual ‘ousou’ defender a cultura dos povos ciganos. O mais curioso é que isso aconteceu justamente na Romênia, o país com a maior população cigana do mundo.

Os noticiários da imprensa que repercutiram o fato expuseram os comentários de leitores entre os quais causaram perplexidades opiniões como: “devemos banir os ciganos desta cidade ou, tal cigano é muito perigoso e põe em risco a vida de várias pessoas” ou até mesmo “devemos voltar ao regime nazista e exterminar os ciganos da face da Terra”. É difícil acreditar que isto acontece em pleno século XXI, mas existe e não muito longe de nós.

Outros fatos têm nos levado a ver de outro ângulo a realidade cigana em nossa região. Como em toda a realidade brasileira, os ciganos têm sido “condenados” por uma ação individual e interesseira ou até mesmo para atingir certas realidades ou pessoas que muitas das vezes sempre acolheu, defendeu os ciganos e os mais necessitados. Percebemos, muitas vezes, nestas ações um jogo diabólico na busca pelo poder e na falta de respeito pela Pessoa Humana e de seu Direito, infligindo assim o que diz a Declaração Universal dos Diretos Humanos no seu artigo primeiro “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão  e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.”  

É importante entrarmos em um caminho de conversão e revermos algumas atitudes para que possamos não nos tornamos, cada vez mais, “juízes com critérios injustos” e nos afastarmos completamente do respeito pela Pessoa Humana usando meios muitas vezes ilícitos para justificar e condenar, atualizando o filósofo italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527) que em sua obra “O Príncipe” diz: “Os fins justificam os meios”.

Em novembro  de 2008, no sexto  Congresso Internacional  da Pastoral  dos Nômades, em Freising – Alemanha, um jovem cigano  com  palavras  conclusiva  ao Congresso fez um convite  para derrotar o racismo: “Devemos combater o racismo não com as armas, mas, com o  amor, o trabalho e a humildade,  provando que para além dos nossos  defeitos, também temos os  nossos valores”. Portanto, considerando o tratado dos direitos humanos e o valor ético, social e cristão da pessoa, nunca deveríamos fazer acepção de pessoa.